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sexta-feira, 3 de abril de 2015

ESTUDO DO EVANGELHO SEGUNDO LUCAS

AUTOR

Desde os primeiros cânones da Bíblia Sagrada, como o Cânon Muratório (170-180 d.C.), que é uma das listas mais antigas que se conhece do Novo Testamento, que o terceiro Evangelho é reconhecido como de autoria de Lucas. Irineu, um dos pais da Igreja, já citava o Evangelho Segundo Lucas em seus escritos, por volta do ano 180 d.C.

Esse Evangelho forma um par com o livro de Atos dos Apóstolos, a linguagem e a estrutura desses livros mostram que ambos foram escritos pela mesma pessoa. São endereçados ao mesmo indivíduo, Teófilo, e a segunda obra faz referência à primeira (At 1.1).

QUEM ERA LUCAS
Lucas era companheiro e grande amigo do apóstolo Paulo. Único autor gentio incluído entre os escritores do Novo Testamento. Embora não tenha sido testemunha ocular do ministério terreno de Jesus, o escritor nos informa no prefácio do livro que investigou cuidadosamente os fatos e que ouviu aqueles que foram testemunhas oculares e servos do Senhor (1.1-3).

Lucas era um médico (Cl 4.14), que se converteu ao cristianismo e se tornou colaborador permanente do apóstolo Paulo. Culto, dominava o grego clássico.

Com relação à cidade em que nasceu, existe uma polêmica. Alguns teólogos e historiadores defendem que Lucas nasceu em Antioquia da Síria e outros acham que foi em Filipos.

DATA E OCASIÃO
Lucas pode ter sido escrito por volta de 63. Alguns intérpretes argumentam a favor de uma data entre 75 e 85 d.C., afirmando que algumas passagens de Lucas pressupõem a destruição de Jerusalém, fato ocorrido em 70 d.C. (ex. 19.43; 21.20, 24). Mas essas passagens falam daquilo que era costumeiro quando um exército sitiava uma cidade da época, e não se podem acrescentar novas conclusões além daquilo que foi profetizado por Jesus. Jesus profetizou que as políticas em vigência levariam à ruína da nação no devido tempo. Alguns poucos críticos argumentam a favor de uma data no século II, mas parece não haver boas razões para isso. Com as informações que dispomos a data mais razoável é no inicio dos anos 60.

DESTINATÁRIO E PROPÓSITO
Esse Evangelho tem um destinatário específico, Teófilo (1.3). Esse nome se refere a uma pessoa e o emprego do adjetivo “excelentíssimo” junto com o nome, revela que se trata de alguém de posição importante. Teófilo era possivelmente o patrocinador de Lucas, responsável por mandar copiar e distribuir seus escritos. Dedicatórias como essa da abertura do livro de Lucas eram comuns naquela época.

Teófilo, no entanto, era mais que um patrocinador. A mensagem desse Evangelho visava à instrução não só daqueles entre os quais o livro iria circular, mas também ao próprio Teófilo (1.4). O fato desse Evangelho ter sido inicialmente dirigido a Teófilo não reduz nem limita o seu propósito. Foi escrito para fortalecer a fé de todos os crentes e para reagir aos ataques dos incrédulos contra Jesus. O Evangelho de Lucas foi apresentado para substituir relatórios desconexos e infundados a respeito de Jesus. Lucas queria demonstrar que o lugar ocupado pelo gentio convertido ao Reino de Deus baseia-se nos ensinos de Cristo. Queria recomendar a pregação do Evangelho ao mundo inteiro, não apenas aos judeus.

PROVAS ARQUEOLÓGICAS
Sempre houve dúvidas quanto à precisão do evangelho de Lucas, mas quando os arqueólogos examinaram detalhadamente o que ele escreveu, o consenso geral, tanto entre os estudiosos liberais quanto entre os conservadores, é de que o historiador Lucas é muito preciso. Ele é erudito, eloquente, seu grego é próximo do clássico, escreve como um homem estudado. As descobertas arqueológicas demonstraram reiteradas vezes que Lucas apresenta com exatidão o que tem a dizer.

São diversos os casos em que os estudiosos inicialmente pensaram que Lucas tivesse se enganado em determinada referência, descobertas posteriores, entretanto, confirmaram a correção de seu texto.

Em Lucas 3.1, por exemplo, o evangelista refere-se a Lisânias como tetrarca de Abilene por volta de 27 d.C. Durante anos os especialistas citavam essa passagem como prova de que Lucas não sabia do que estava falando, uma vez que todo mundo sabia que Lisânias não fora tetrarca, e sim governador de Cálcis cerca de meio século antes. Se Lucas não era capaz de acertar um detalhe tão elementar quanto este, diziam, não se pode confiar em mais nada do que escreveu.

Mais tarde descobriu-se uma inscrição da época de Tibério, de 14 a 37 d.C., em que Lisânias aparece como tetrarca de Abila, perto de Damasco, exatamente como informara. Acontece que havia dois governadores chamados Lisânias.

ESTILO LITERÁRIO
Lucas tinha notável domínio da língua grega. Seu vocabulário é amplo e rico, e seu estilo muitas vezes se aproxima do grego clássico, ao passo que em outras ocasiões é bem semítico, sendo muitas vezes semelhante à Septuaginta, tradução do Antigo Testamento em grego. Seu vocabulário parece revelar sensibilidade geográfica e cultural, por variar conforme o país ou povo a ser tratado. Quando Lucas se refere a Pedro num contexto judaico, emprega mais linguagem semítica que quando se refere a Paulo num contexto helenístico.

COMPARAÇÃO COM A GENEALOGIA DE JESUS EM MATEUS
A genealogia de Jesus em Lucas é dada em conjunto com seu batismo, e não com o seu nascimento (3.23). Há consideráveis diferenças entre a genealogia de Lucas e de Mateus.

- Em Mateus temos a genealogia real do filho de Davi, já que Mateus apresenta Jesus como Rei e da família de Davi.

- Em Lucas a genealogia de Jesus é traçada pelo lado de Maria.

- Em Mateus a genealogia é traçada desde Abraão até José.

- Em Lucas ela vai de José até Adão.

- Mateus quer mostrar a relação de Jesus com os judeus, por isso só vai até Abraão, pai da nação judaica.

- Em Lucas, Jesus aparece relacionado com a raça humana, daí sua genealogia chegar até Adão, pai da humanidade.

- Em Lucas, a linha ancestral de Jesus recua até Adão e é sem dúvida, a linha ancestral de Maria.

A grande importância nas duas genealogias é que elas afirmam que Jesus é da descendência de Davi, para se cumprir as profecias que diziam que o Messias seria filho e herdeiro de Davi (1Sm 7.12-13). Ele deveria ser literalmente descendente de carne e sangue da raiz de Davi. Daí Maria e José serem membros da casa de Davi (1.27).

CARACTERÍSTICAS E TEMAS
Diferentemente dos outros três Evangelistas, Mateus, Marcos e João, Lucas é o único que inicia seu texto com um prólogo, ou seja, fornece os dados prévios que nortearam a elaboração de seu trabalho. Lucas se comporta como um historiador, incluindo fatos e acontecimentos da época para poder situar a história de Jesus em um momento que possa vir a ser comprovado (3.1-2).

Graças às pesquisas e investigações citadas por Lucas, podemos conhecer fatos importantes a respeito do nascimento de João Batista e de Jesus, bem como a única informação confiável sobre a infância de Jesus (Caps. 1 e 2). Apenas Lucas registra os cânticos de Zacarias e Maria. Apenas Lucas narra a visita dos pastores, a circuncisão e apresentação de Jesus no templo de Jerusalém.

Nesse evangelho aprendemos que, como menino Jesus se desenvolveu naturalmente (2.40-52). Como criança Jesus era sujeito a seus pais (2.51). Somente Lucas narra a visita de Jesus ao templo aos 12 anos.

Temos aqui o primeiro registro das primeiras palavras de Jesus: “E ele lhes disse: Por que é que me procuravam? Não sabem que me convém tratar dos negócios do meu Pai?” (2.49). É a primeira vez que Jesus revela sua divindade. Depois desse fato seguem-se dezoito anos de silêncio sobre a vida de Jesus.

O Evangelho de Lucas apresenta as obras e os ensinos de Jesus sempre apontando para o caminho da salvação. Sua abrangência é completa, desde o nascimento de Cristo até sua ascensão. É um relato ordenado na sua disposição e tem atrativos para os judeus e gentios igualmente. A redenção se caracteriza pela excelência literária, por pormenores históricos e pelo modo caloroso e sensível de apresentar e Jesus e os que com Ele conviviam.

Lucas enfatiza a importância da oração e registra que Jesus orou antes de ocasiões cruciais de seu ministério. Nove orações de Jesus são incluídas nos Evangelhos, sete das quais são encontradas somente em Lucas. Acrescente-se ainda parábolas sobre oração que são encontradas somente em seu Evangelho.

Como os Evangelhos sinóticos relatam muitos dos mesmos episódios da vida de Jesus, seria mesmo de se esperar muita semelhança em seus relatos. As diferenças revelam a ótica característica de cada autor. Entre os temas próprios de Lucas estão:

1-    Universalidade – o reconhecimento dos judeus e gentios no plano de Deus.

2-    A importância da oração.

3-    Alegria ao anunciar o Evangelho.

4-    Preocupação especial com o papel desempenhado pelas mulheres.

5-    Interesse especial pelos pobres (alguns ricos se achavam entre os seguidores de Jesus, mas Ele parecia mais próximo dos pobres).

6-    Preocupação com os pecadores (Jesus era amigo de pessoas dominadas pelo pecado).

7-    Destaque ao circulo familiar.

8-    Uso repetido do título “Filho do Homem”

9-    Realce dispensado ao Espírito Santo.

Lucas é o evangelho dos desprezados. Ele nos conta sobre o bom samaritano (10.33-37), o publicano (18.13), o filho pródigo (15.11-32),  Zaqueu (19.2-10) e o ladrão na cruz (23.39-43). O Evangelho de Lucas dá grande destaque as mulheres, algo incomum na época. Ele nos revela que eram as mulheres que sustentavam financeiramente o ministério de Jesus (8.2,3). É o Evangelho do misericordioso Filho de Deus, que oferece Salvação a toda humanidade (19.10). Apenas neste evangelho está registrado que Jesus chorou quando contemplou a cidade de Jerusalém. Só ele menciona o Filho de Deus suando sangue no Getsêmani; sua misericórdia dirigida ao ladrão moribundo na cruz ao lado (23.39-43).

É o Evangelho mais longo e inclui grande quantidade de informações não encontradas em outros textos.

O ESPÍRITO SANTO
Lucas destaca a obra do Espírito Santo. Ele revela que João Batista seria cheio do Espírito Santo desde o ventre da mãe (1.15). O Espírito Santo desce sobre Maria, a fim de que ela miraculosamente venha dar a luz ao Filho de Deus (1.35). Quando Maria visita Isabel, esta fica cheia do Espírito Santo, exclamando: "Bendita és entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre" (1.42). Quando João Batista nasce, o pai Zacarias fica cheio do Espírito Santo e profetiza (1.67). O Espírito Santo repousa sobre Simeão, e informa-lhe que ele contemplará o Messias antes de sua morte e impulsiona-o para que vá ao templo para ver o menino Jesus (2.25-27). Jesus recebe o Espírito Santo por ocasião do Batismo e foi levado para o deserto (4.1). E Jesus antes de sua ascensão promete que o Espírito Santo virá revestir os discípulos de "poder" proveniente do alto (24.49). Por isso o Evangelho de Lucas faz tantas referências a alegria. 

PARA QUEM FOI ESCRITO
O Evangelho de Lucas foi escrito para os gregos, por isso Jesus é apresentado como o Homem Perfeito, já que os gregos sempre buscaram a perfeição. Os gregos inventaram a matemática, a ciência e a filosofia; foram os primeiros a escrever histórias em lugar de meros anais; especularam livremente sobre a natureza do mundo e as finalidades da vida, sem que se achassem acorrentados a qualquer ortodoxia herdada. Foi para esses intelectuais que Lucas descreveu a vida e a obra de Cristo, o Homem e o Salvador Perfeito. Lucas o descreveu como um homem cheio de simpatia para com toda a humanidade, Salvador de todos os homens, sem distinção de qualquer espécie.

Embora os Evangelhos fossem destinados em última análise à totalidade da raça humana, parece que Mateus tinha em vista os judeus, Marcos os romanos e Lucas os gregos. Lucas escreveu especialmente para o povo grego, símbolo da cultura, da filosofia, da sabedoria e da educação, a fim de apresentar a gloriosa beleza e perfeição de Jesus, o Homem Perfeito.  

VERSÍCULO CHAVE
O versículo chave de Lucas está no capítulo 19.10 “Porque o Filho do Homem veio para buscar e salvar o que se havia perdido”.

ESBOÇO DE LUCAS

I. Prólogo 1.1-4

II. A narrativa da infância 1.5-2.52
Anúncio do nascimento de João Batista 1.5-25
Anúncio do nascimento de Jesus 1.26-38
Visita das duas mães 1.39-56
O nascimento de João Batista 1.57-80
O nascimento de Jesus 2.1-40
O menino Jesus no templo 2.41-52

III. Preparação para o ministério público 3.1-4.13
O ministério de João Batista 3.1-20
O batismo de Jesus 3.21-22
A genealogia de Jesus 3.23-38
A tentação 4.1-13

IV. O ministério galileu 4.14-9.50
Em Nazaré e Cafarnaum 4.14-44
Do chamamento de Pedro ao chamamento dos doze 5.1-6.16
O Sermão da Montanha 6.17-49
Narrativa e diálogo 7.1-9.50

V. A narrativa de viagem (no caminho para Jerusalém) 9.51-19.28
VI. O ministério de Jerusalém 19.29-21.38
Acontecimentos na entrada de Jesus em Jerusalém 19.29-48
História de controvérsias 20.1-21.4
Discurso escatológico 21.5-38

VII. A paixão e glorificação de Jesus 22.1-24.53
A refeição de Páscoa 22.1-38
A paixão, morte e sepultamento de Jesus 22.39-23.56
A ressurreição e a ascensão 24.1.53.



FONTE:   www.santovivo.net

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